
Não é novidade que os impactos negativos das mudanças climáticas incidem de forma desproporcional sobre populações já em situação de vulnerabilidade. Essa disparidade se dá, em grande parte, pelo fato de essas pessoas viverem, frequentemente, em áreas marginalizadas, com infraestrutura inadequada para lidar com eventos climáticos extremos; dependerem de atividades econômicas altamente sensíveis às variações do clima, como a pesca e a agricultura; ou enfrentarem dificuldades no acesso a recursos e políticas públicas capazes de mitigar tais impactos.
Nesse contexto, fatores sociais como gênero e faixa etária desempenham papel determinante na amplificação dos riscos e consequências enfrentados por determinados grupos, aprofundando ainda mais as camadas de desigualdade que os afetam. Estimativas da ONU¹ indicam que aproximadamente quatro em cada cinco pessoas deslocadas em razão de eventos climáticos são mulheres e meninas, evidenciando a interseccionalidade entre as vulnerabilidades de gênero e aquelas decorrentes da crise climática.
É urgente, portanto, que os planos e metas voltados à resiliência climática sejam elaborados com a incorporação explícita de salvaguardas de gênero, como condição essencial para sua eficácia. Tais salvaguardas envolvem, entre outros aspectos, o acesso equitativo a oportunidades de financiamento, capacitação profissional, bem como a adoção de medidas específicas para prevenir e responder à violência baseada em gênero.
Para que isso seja possível, é fundamental que qualquer ação climática, desde sua concepção, assegure a participação ativa das mulheres — especialmente daquelas diretamente impactadas pelas iniciativas — nos processos decisórios relacionados à adaptação e mitigação climática. São elas que, a partir de suas vivências, saberes tradicionais e conhecimentos locais, estão mais aptas a propor soluções adequadas e inclusivas, capazes de assegurar a efetividade das estratégias de resiliência em benefício de toda a comunidade.
O reconhecimento e a valorização dos conhecimentos tradicionais e locais dessas populações podem ser ferramentas valiosas na formulação de estratégias de enfrentamento à crise climática e na construção de soluções sustentáveis e equitativas, enraizadas nas realidades dos territórios. Assim, promover ações que fortaleçam a autonomia das mulheres e sua capacidade de adaptação é parte indissociável desse processo. Mulheres não devem ser incluídas apenas como beneficiárias das políticas climáticas, mas como protagonistas indispensáveis na formulação, implementação e acompanhamento dessas agendas.
¹https://www.un.org/en/climatechange/science/climate-issues/women?utm_source=chatgpt.com
				
							
		

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